sábado, 31 de julho de 2010

Quanto vale?

Uma das coisas que mais tem atormentado a minha mente ao longo da minha vida é o conceito de valor. Alguns valorizam as relações humanas, o trabalho, os hobbies, as artes. Outros valorizam o dinheiro, bens de consumo, status, poder. Atualmente, parece que o segundo grupo tem apresentado preferência em relação ao primeiro.

O dinheiro é um valor que pode ser quantificado. Ou usado como padrão para quantificar outros valores. Atualmente, o dinheiro tem sido usado como referência para mensurar o estrago feito pela depleção da camada de ozônio, ou o impacto ambiental provocado pelas emissões de carbono fóssil. Ou pelo desmatamento. É o que convencionou-se em chamar de custo ambiental. Este conceito provoca a crença errada de que para consertar os estragos que provocamos é apenas uma questão de assinar o cheque.

Isso nos leva a uma armadilha. Como avaliar algo em função de outro valor tão mutável? Diariamente, a cotação das moedas mudam uma em relação às outras. Se o dolar cair mais em relação ao real do que em relação ao euro, eu compro dólares usando reais, para depois vender em euros. E obter lucro com a operação.

Por que o dinheiro vale o que vale? Quem define isso? Afinal, por que o dinheiro vale alguma coisa?

No passado, o dinheiro era uma mercadoria. Normalmente era cunhado em moedas de ouro ou prata, metais valorizados em função da beleza e da durabilidade. Usar moedas era um tipo de escambo. Se alguem precisasse de ouro para fazer um colar ou uma coroa, as moedas eram simplesmente derretidas.

Um dia, alguém, provavelmente um banqueiro, concluiu que não era prático e nem seguro as pessoas andarem na rua carregando ouro, um metal particularmente pesado. Tão pesado que levou a minha irmã médica a comentar: "O ouro é mais bonito do que o chumbo, mas é tão venenoso quanto!". Como carregar ouro era inseguro e pouco prático, foi inventado o depósito bancário. A idéia era muito bacana (para o banco). A pessoa depositava o ouro no banco, que por sua vez fornecia um certificado de depósito bancário, o precursor do dinheiro de papel. Este certificado poderia ser usado como moeda na realização de negócios. Em troca, o banco era autorizado a emprestar o ouro depositado a outra pessoa, pagando juros ao depositante. Mas a pessoa que tomava emprestado, não levava ouro, mas outro certificado de depósito. Na prática, dois certificados de depósito acabavam sendo emitidos para o mesmo ouro. Às vezes, mais de dois.

Com o tempo, os bancos passaram a aceitar depósitos de certificados de depósitos de outros bancos. E emitir certificados de depósito dos certificados de depósitos. E a realizar empréstimos lastreados nestes certificados. Os governos acabaram assumindo o controle dessas operações, centralizando os depósitos de ouro e emitindo títulos de depósitos ao portador, com um valor arbitrário. Era o nascimento do dinheiro de papel.

Hoje, o ouro não é mais o principal lastro do dinheiro. O lastro hoje é baseado do Produto Interno Bruto, em um sistema de tamanha sofisticação e complexidade que eu tenho dificuldades para acompanhar. Mas o hábito de reemprestar o mesmo dinheiro diversas vezes continua atualmente. Aliás, esta usura desenfreada, tecnicamente conhecida como "alavancagem" foi apontada como a principal causa da atual crise econômica mundial.

Mas afinal, quanto vale o dinheiro? Como este valor de fato é definido? Quais os interesses por trás desta definição? Uma coisa tão importante como o dinheiro não poderia estar sujeito a variações de humor e a falências de economias. O dinheiro deveria ter valores tão estável como o metro, o quilograma ou a hora. Alguem poderia argumentar que em velocidades próximas da luz, o metro, o quilograma e a hora mudam de tamanho. Mas eu não conheço ninguém que se desloque em velocidades próximas a da luz. E quem viaja a essas velocidades não percebe a diferença.

Antes de nos atrevermos a quantificar os ativos ambientais em dólares ou reais, deveríamos encontrar um meio confiável de definir o valor desses dólares e reais. Em um mundo em constante mudança, algo precisa possuir um valor fixo. Matérias primas deveriam ter um valor fixo, e não variar seu valor ao sabor do mercado, favorecendo a especulação, que por sua vez favorece a concentração de riqueza e o estabelecimento da pobreza. Em última análise, os pobres são pobres porque alguém decidiu que assim seria.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Não somos latinos

Antes de mais nada, quero declarar que não tenho nada contra os latinos, sejam eles quem forem. Nem quero negar nossas origens históricas e culturais. Afinal, o grande poeta Olavo Bilac refere-se à nossa lingua pátria, o português, como "última flor do Lácio, inculta e bela", em referência à origem latina do idioma. O que eu quero negar aqui é a pecha genérica imposta indistintamente a mexicanos, argentinos e brasileiros. Poque afora as origens vagamente comuns, cada povo que compõe a chamada "América Latina" possui identidade e características próprias. Confesso que fico irritado quando se referem à música brasileira como "latina". O que é musica latina? Samba é musica latina? Ou rumba? Ou Tango? Ou Bossa Nova? Ou Jass?

Nem mesmo o idioma é unanimidade. Diz-se que o idioma predominante é o espanhol. Pode ser dominante em termos de número de países falantes, mas em termos populacionais aparece um predomínio do português. Isso sem falar nos poucos países onde se fala francês, holandês, ou mesmo inglês, e que são incluidos no mesmo pacote dos latinos. Ou de grande parte do Canadá que é falante de francês, mas que conta como "América Anglo-Saxônica".

Pode parecer bobagem, mas este tipo de abordagem generalista pode induzir a erros. Erros que influem na tomada de decisão. Um exemplo facil de visualizar são os comerciais em espanhol que são veiculados na TV paga. Por que anúncios em espanhol? Porque algum tomador de decisões, acreditando que em toda a américa latina se fala espanhol, acha que não há problema em veícular publicidade neste idioma no Brasil. Ou então, acredita que o espanhol e o português são idiomas "parecidos" E realmente são. Só que o português e o italiano também são. Aliás, do ponto de vista sintático, são até mais parecidos. Só que esta é uma decisão errada. E o motivo é que a maioria dos brasileiros "acha" que entende espanhol. Mas apenas acha. e por causa disso, não compreende a mensagem que o anunciante queria transmitir. Além disso, na minha opinião, é um desrespeito transmitir para o publico de um país uma mensagem em um idioma destinado a outro país.

Por causa desta generalização, muitos americanos acreditam que a capital do Brasil é Buenos Aires e que aqui se dança rumba.

Por isso, quero reafirmar que somos brasileiros. Falamos o português e nossa capital é Brasília! A maioria não entende o espanhol e não faz a menor idéia do que seja rumba!